Descrição
O lado das práticas é vital, pois interessa como o aprendizado ocorre no concreto, essencialmente em sua qualidade
autoral. Quando chegou a onda das “metodologias ativas”, nos iludimos com a expectativa de que a escola mudaria se nossa
aula ficasse mais bonitinha. Confundimos as coisas. Metodologias ativas são do estudante, são atividades de aprendizagem.
Enfeitar a aula não vai agregar nada. Vai ser importante se a autoria do estudante for o centro das atenções, na teoria e na prática. Por tradição instrucionista – Anísio Teixeira já reclamava disso contundentemente – cuidamos do currículo, repassando-o religiosa e sistematicamente. Mas não cuidamos devidamente do estudante que pode receber todos os conteúdos, mas não ter aprendido nada. Disso tenho concluído que o foco na escola e na universidade deve estar na aprendizagem. Ensino é parte, mas é mediação supletiva. Quem fabrica a aprendizagem é o estudante,
se participar como autor.
Os textos desta coletânea são muito importantes porque ecoam fortemente o compromisso em garantir que os estudantes
tenham o melhor aproveitamento possível do ensino na escola, voltado para sua autoria, que é a razão educacional mais profunda. Quero valorizar abertamente este compromisso pedagógico, porque precisamos evoluir em educação, em particular nas práticas escolares. Muitas podem ser as concepções e tendências, sendo fundamental fomentar ambientes pluralistas de concepções e práticas, todas voltadas para o direito constitucional do estudante de aprender bem. Precisamos tecer nossa variedade em projetos comuns, que tenham em comum, não acertos de cima para baixo, mas a variedade das visões condizentemente fundamentadas. Unem-nas as práticas, todas comprometidas com o estudante, mas todas provindas de pesquisadores com história própria de envolvimento, ou seja, da práxis diversa. As práticas precisam confluir, mas as concepções e tendências, sobretudo as teorizações, são múltiplas, estando aí a graça da diversidade de olhares que contribuem para a escola pública. Para aprender com devida autoria, a divergência é fundamental. Na verdade, do mesmo não se aprende nada. Aprende-se do diverso, da ideia que estranhamos, da proposta que nos provoca, da colocação que nos questiona, da experiência nova, da argumentação diferente. No mundo da ciência, a divergência é a fonte de sua criatividade, mas trata-se de uma divergência com marca científica, ou seja, devidamente argumentada. Divergência
que vem do argumento de autoridade não vale, pois vale a autoridade do argumento, a força sem força do melhor argumento
(Habermas), para convencer sem vencer. É preciso compor energias vibrantes, não um amém sem fim que ecoa vazio no espaço perdido. Vejo nos textos publicados o esforço atento e incansável de oferecer aportes científicos à causa da educação, por parte de educadores coerentes com a práxis: ensinam porque sabem aprender; aprendem porque sabem, mais que mudar, mudar-se.
De certa forma, podemos reconhecer que não é por falta de “pedagogia” que temos questionado a escola. Sempre tivemos
no país teóricos de ponta, muito produtivos, também reconhecidos. O que nos aflige é a prática escolar, porque é prática no
sentido caduco da reprodução. No sentido do cultivo da autoria do aluno, é imprática, ou práxis para trás. Acabrunha-nos ver que, permanecendo 12 anos na escola básica, o aluno pode concluí-la com resultado minúsculo. Consta que 12% dos adultos são “proficientes”. Mesmo entre quem tem diploma superior, apenas um terço é proficiente. Analfabetos funcionais são 30%. Ensina-se muito; aprende-se quase nada… A prática precisa ser reinventada, para que se torne a práxis da cidadania emancipatória. Este livro tem este objetivo magnífico. Já não nos comove muito o que a pedagogia diz, declama
ou aclama que é. Palavras não bastam. A práxis é que vai decidir sua importância real. Olhando por este lado, é indisfarçável a decepção generalizada. A escola pública, muitas vezes a única chance dos mais pobres para vislumbrar alguma alternativa de vida, é desperdiçada com práticas inoperantes. Não segue que teoria é menor ou mesmo dispensável. Precisamos de teoria e prática, cada qual em seu lugar. A teoria que não chega à prática, nem teoria é ou foi. A prática que não volta à teoria gasta-se como reprodução vazia. Os textos são, em muitos sentidos, a teorização das práticas no contexto alternativo de oferecer oportunidades reais de mudança de vida para o estudante, ou seja, a busca de transformar práticas recorrentes acumulativas em práxis emancipatórias. Aprender bem na escola e na universidade é fundamental e fundante para mudar de vida, para qualificar a democracia e a república.
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