Description
Vocês sabem que a vida de um médico em São Paulo não é diferente dos demais brasileiros de classe média: após formar-se, seguir fazendo cursos e trabalhar arduamente, ele alcança um padrão razoável ou bem elevado: consultório particular, cargo em um hospital, alguns a docência superior; nas férias uma praia com a família, uma viagem ao exterior, um congresso nos Estados Unidos… e, afinal, após 35 ou 40 anos de trabalho, a aposentadoria merecida!
Bem, esse modelo não corresponde à vida do Doutor João Paulo, absolutamente!
Além dos consultórios, das aulas, do hospital, dos incontáveis artigos científicos, ele dedica sua vida aos povos indígenas brasileiros, especialmente os da Amazônia.
Duas vezes por ano, desde a década de 1960, o Doutor João Paulo viaja para aldeias indígenas: o renomado endocrinologista atende, como clínico geral os moradores que o procuram, verifica os problemas sanitários, orienta sobre hábitos saudáveis, encaminha os pacientes mais graves para hospitais. E vem enfrentando, nesses 53 anos, problemas cada vez mais graves.
“Quanto mais problemas, mais a minha intenção é de resistir!”
Vocês concordam que ele deve ter manifestado esse sentimento quando jovem, nos primeiros anos de trabalho nas aldeias, certo?
Errado! Isso ele disse recentemente, no auge da luta pela defesa dos direitos dos Xikrin, encontrando barreiras quase intransponíveis, lutando ao lado de seus parentes índios. Sim, porque ele, como boa parte dos brasileiros, é de ascendência indígena, sabe disso e valoriza o vínculo com a terra brasileira.
É reconhecido como parente entre o povo Xikrin: Atoro e Bekuipure são seus pais, Djaoro é sua avó; tem irmãos, sobrinhos e cunhados.
Também tem filhos que criou com grande amor paterno: Dionísio, da nação Caripuna, Simuniá, do povo Javaé, Bartolomeu, índio Xavante, Xacoré, da nação Kyikatejê.
O que vocês vão ler nestas memórias é uma bela história de amor, tenacidade, coragem, trabalho contínuo, humildade, extrema resiliência. Tudo isso temperado com bom humor e esperança.
Virgínia Mattos, nov. 2018