Descrição
Já tive o privilégio de apresentar muitos livros, mas nunca senti tanta diculdade quanto a de escrever sobre este pequeno grande livro
A escolinha triste, de Jacqueline Bezerra Cunha, por uma série de razões, dentre as quais se destacam as duas que vou registrar em seguida.
Primeiramente, eu jamais havia pensado o quanto exige um livro infantil, seja no cuidado com a linguagem, seja no atendimento à riqueza
da imaginação dos pequenos. Não se pode falar como geralmente se fala de uma obra desta natureza. Em segundo lugar, a riqueza da lição
que podemos extrair da singela, mas profunda, dialética que Jacqueline propõe à apreensão inteligente/emocional da primeira infância.
Então, resolvi, como ela, contar uma estória– que já ouvi em algum lugar, mas que adotei como minha e, por isso, não vou sobrecarregar o
texto com referências – tentando, também, propor uma dialética. E a estória é uma espécie de parábola que se segue.
Em uma região erma, no alto de um promontório à beira-mar, localiza-se um laboratório de pesquisa em biologia marinha, onde trabalhava
um famoso cientista especializado nesta matéria. Um belo dia, ele viu uma menina, na praia, abaixo, pegando estrelas do mar que
haviam sido lançadas na areia pela maré alta e jogava-as de volta ao mar. Intrigado, desceu do laboratório e abordou a menina:
– O que você está fazendo?
– Estou devolvendo as estrelas do mar ao oceano, para que não morram.
– E você sabe quantos quilômetros de litoral existem no mundo e quantos milhões de estrelas do mar a maré alta lança nas areias das
praias? Esta poucas que você devolve ao mar não farão diferença na estatística desses animais marinhos. Isso vem acontecendo há milhares
de anos e não fez diferença na sobrevivência da espécie!
A menina, calada, continuou catando as estrelas, lançando-as nas águas. O cientista pensando que a garota era maluca, virou-se e começou
a voltar para seu laboratório. Então, foi surpreendido pela menina que, com uma estrela do mar na mão, gritou:
– Ô moço, pode não fazer diferença nisso que o Senhor falou, mas faz muita diferença para esta aqui.
E devolveu a estrela ao mar.
O espírito dialético da menina da praia é, certamente, o de Jacqueline que, combinando o coletivo com o individual, sem estabelecer
hierarquias, tenta salvar cada aluno, cada escola e a escola e os sistemas educacionais enquanto coletivos.
José Eustáquio Romão