Descrição
SONHOS, TEIAS, UTOPIAS
Poeta, contista, romancista e conferencista, Edir Meirelles nos surpreende agora como crítico, ao reunir neste volume de belo título, suas considerações, análises e interpretações de obras de alguns escritores contemporâneos. E ele assim o faz com maestria, exibindo de pronto duas ou três qualidades: sensibilidade artística, acuidade interpretativa e largueza cultural, capaz de comentar com igual desenvoltura livros de poesia, ficção, crônica e ensaio histórico-literário.
Outro traço que se depreende de sua escrita está na generosidade do seu olhar, ao destacar os aspectos positivos, até com certa empolgação, da obra em exame. Trata-se de um crítico que parece a todo instante querer compartilhar o prazer que experimentou ao ler determinada obra. E neste ponto evidencia-se uma outra qualidade sua: a clareza dos pontos de vista, servida por uma linguagem ágil e comunicativa, longe de certo pedantismo teórico-acadêmico.
Sonhos, teias, utopias reúne predominantemente textos de apresentação (prefácios e orelhas) de obras de alguns escritores estreantes e de outros já bastante conhecidos. Todos, entretanto, tratados com o mesmo destaque. A intermediação que realiza entre a obra e o leitor tem quase sempre valor de descoberta, ao chamar a atenção para determinados aspectos estético-sociais da obra em exame. E é esse verdadeiramente o papel do crítico, a meu ver. Dou como exemplo a penetrante abordagem que faz dos trabalhos dos ensaístas Alexandre Santos, Gastão Rúbio, Hamilton Rogério e J. Carlos Ferreira, ao lado dos romancistas Roberto Sobral e Ceila Ferreira Martins, dos contistas e cronistas Celina Lemos e Condorcet Aranha, bem como dos poetas Cairo de Assis Trindade, Jorge Ventura, Juçara Valverde, Celi Luz, Elisa Flores, Márcia Barroca, entre outros. Autores esses de diversos gêneros literários, comentados aqui com igual desenvoltura e domínio da matéria pelo crítico.
Há também neste volume a presença do cronista Edir Meirelles, ao escrever sobre o “Dia da consciência negra”, no Brasil, partindo da inauguração, em 1986, do monumento a Zumbi dos Palmares, na Praça Onze, no Rio de Janeiro, onde esteve presente. Destacaria, ainda, já no plano pessoal, a saborosa crônica na qual o autor recorda o encontro na Bahia com a sua futura esposa, “Cartas para meu amore”.
Falei acima do crítico e do cronista Edir Meirelles, mas vale também ressaltar aqui a sua atuação em importantes agremiações literárias, as quais presidiu, como o Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro e a União Brasileira dos Escritores-RJ. Merece destaque também a sua competente participação, na Academia Carioca de Letras, como um dos seus diretores, na gestão do presidente Ricardo Cravo Albin. Deste modo, seja como escritor, poeta, ficcionista e crítico, seja como gestor e animador da cena cultural-literária na cidade do Rio, Edir Meirelles merece o nosso aplauso e reconhecimento.
Adriano Espínola
Poeta, membro da
Academia Carioca de Letras.